O “megapedido” de impeachment contra Alexandre de Moraes: pressão política, reviravoltas no STF e um fim de ano explosivo em Brasília
O vereador curitibano Rodrigo Marcial (Novo-PR) desembarcou em Brasília nesta quinta-feira (4) com um objetivo declarado: provocar impacto nacional. E conseguiu. Ele protocolou no Senado o que chamou de “o maior pedido de impeachment da história” contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O documento é gigantesco: 68 mil assinaturas e 126 supostos crimes de responsabilidade atribuídos ao magistrado. É praticamente um inventário político, organizado ao longo de meses. Marcial afirma ter montado o chamado “Dossiê Moraes” com linguagem técnica, cronologia detalhada e blindagem jurídica para evitar contestações.
Exibindo o calhamaço em fotos nas redes sociais, o vereador escreveu que sai da capital com o “dever cumprido”. Segundo ele, parlamentares de direita ajudaram na elaboração do texto e concordam que “os abusos do STF ultrapassaram todos os limites”. Em tom inflamado, Marcial ainda cobrou o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, dizendo que ele “precisa agir” e não pode engavetar o pedido.
A publicação terminou com uma frase típica da ala mais radical da oposição:
“Seguiremos até derrubar os tiranos da República.”
Mas, antes mesmo de o pedido chegar ao plenário, um obstáculo monumental já havia sido colocado no caminho.
Gilmar Mendes muda o jogo e atinge diretamente o pedido de Marcial
Na véspera do protocolo, uma decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes mudou radicalmente o debate: somente a Procuradoria-Geral da República (PGR) pode apresentar pedidos de impeachment contra ministros do STF.
Na prática, a decisão bloqueia iniciativas como a de Rodrigo Marcial — e de qualquer cidadão ou grupo político. A medida rapidamente se tornou o assunto dominante nos corredores do Congresso.
Para opositores, é uma tentativa de blindagem institucional. Para aliados do governo e setores do Supremo, é um movimento para barrar ações consideradas temerárias, politizadas ou sem base jurídica sólida.
Gilmar não parou por aí. Ele também definiu que um eventual impeachment só pode ser aprovado com o apoio de dois terços do Senado, e não mais por maioria simples. A mudança torna o processo ainda mais improvável, praticamente uma porta entreaberta — ou, como apontaram analistas, “uma fresta quase decorativa”.
A decisão, porém, ainda é provisória e será julgada pelo plenário virtual do STF entre 12 e 19 de dezembro. Até lá, tudo pode mudar — ou se concretizar de vez.
Oposição reage com PEC e tenta reverter o cenário
A reação da oposição foi imediata. Senadores da direita apresentaram uma PEC para restabelecer a regra tradicional: qualquer cidadão pode denunciar ministros do STF.
A proposta ganhou força rapidamente, impulsionada pelo ambiente das redes sociais, onde grupos conservadores mantêm críticas constantes a Alexandre de Moraes. Dentro de poucas horas, o tema dominou debates políticos, lives e hashtags de grande alcance.
Embora simbólica, a PEC ainda enfrenta um longo caminho: exige discussão em comissões, votações no Senado e na Câmara e apoio de 3/5 dos parlamentares. Mas a iniciativa serviu para mostrar que a disputa institucional está longe de arrefecer.
Do lado governista, houve quem comemorasse a decisão de Gilmar Mendes e classificasse o pedido de Marcial como mais um gesto performático em ano pré-eleitoral.
Um fim de ano marcado por tensão institucional crescente
Mesmo sem garantia de tramitação, o pedido de impeachment apresentado por Rodrigo Marcial tem força simbólica e reforça a guerra política que marcou 2024 — e que promete se intensificar até 2026.
O vereador afirma, em conversas com apoiadores, que não pretende recuar. Ele aposta na “pressão popular” para obrigar o Senado a reagir, e repete que o dossiê representa “a voz do povo”. Já aliados de Alexandre de Moraes dizem que tudo não passa de um “ato político” sem base jurídica consistente.
Independentemente do desfecho, o episódio amplia o desgaste entre Poderes. A relação entre Congresso e STF, que já vinha tensa, entrou em um novo patamar com a decisão de Gilmar Mendes e a ofensiva da oposição.
A partir de agora, Brasília deve viver semanas de discursos inflamados, articulações estratégicas, recados indiretos e uma disputa narrativa feroz — especialmente à medida que o julgamento da liminar se aproxima.
Conclusão
O “megapedido” de impeachment de Rodrigo Marcial pode não prosperar — e hoje, juridicamente, ele está praticamente bloqueado. Ainda assim, ele cumpre um papel político poderoso: alimenta a tensão institucional, impulsiona mobilização digital e pressiona o Senado em um momento de forte polarização.
A novela está longe de acabar. E, como tudo indica, os próximos capítulos serão ainda mais intensos.
