Ao atacar BC, Lula procura um bode expiatório para seu fracasso na economia

O presidente Lula já deve ter percebido que o crescimento da economia este ano será pífio, frustrando suas promessas de campanha e comprometendo a marca de bonança que queria associar ao seu terceiro mandato. Ao invés de proporcionar mais picanha, vai entregar menos empregos. Só isso explica os ataques em série ao Banco Central, que estão conseguindo a proeza de aumentar os juros futuros, impedir a queda do dólar, ampliar a expectativa inflacionária e deteriorar a confiança na economia.

É um tiro no pé. O perigoso círculo vicioso que coloca a economia em uma espiral negativa foi criado pelo próprio petista. Ele se recusou a mostrar qualquer plano econômico na campanha e, logo após se eleger, passou a atacar o “mercado”, destilando arrogância e fazendo pouco dos números das mesas de operação que apenas refletiam o estrago real dessa antipolítica. Esse duelo contra a racionalidade econômica é a marca de gestões econômicas fracassadas. O maior exemplo é a Argentina, onde o peronismo arruinou a moeda e a economia do país.

Em seu primeiro mandato, ao contrário, Lula teve a intuição de seguir os fundamentos do Plano Real, renegando as soluções fáceis e irresponsáveis que a esquerda e seu partido pregavam. Na época, ele manteve a disciplina fiscal, dialogou com os empresários e respeitou a política monetária do Banco Central, baseada no regime de metas de inflação. Em fevereiro de 2003, no segundo mês do seu primeiro mandato, o “seu BC” aumentou a Selic para 26,5%. Vinte anos depois, seu parâmetro é completamente diferente. A Selic mantida a 13,75% por um Banco Central independente passou a ser “uma vergonha”, vociferou.

No seu primeiro mandato, Lula colheu os frutos de uma política econômica responsável, que domou a inflação e levou ao acúmulo de reservas internacionais. O boom de commodities ajudou, claro. O País enriqueceu e a pobreza diminuiu. O colapso do governo Dilma, em seguida, ocorreu exatamente porque sua sucessora resolveu rasgar contratos, permitiu a volta da inflação, interveio em todos os setores da economia e passou a drenar recursos públicos para investimentos bilionários, como se o dinheiro do contribuinte fosse a chave para o desenvolvimento. Ela também usou os bancos estatais para forçar a baixa artificial dos juros, além de exigir que o então presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, derrubasse a Selic. O resultado foi a maior recessão da história.

Lula tenta reescrever a história negando esse desastre econômico, que aconteceu há menos de dez anos. Dá sinais de que vai mergulhar no populismo econômico, mesmo que seu ministro da Economia se esforce em público para demonstrar que está comprometido com a diminuição do déficit (com aumento de arrecadação, tudo indica, deve-se ressaltar). A equipe econômica tenta ganhar a confiança dos agentes econômicos, dos investidores e da sociedade. Mas a tarefa é difícil, e não só pela ação do chefe. O time foi montado em bases erradas, em ideologia anacrônica e heterodoxia irrealista. Lula apenas verbaliza a desconfiança que está na cabeça de todos.

A verborragia contraproducente na economia não tem ajudado e mostra um caminho perigoso que parece contaminar a gestão. O presidente aposta na polarização, reeditando o “nós contra eles”. Chegou ao cúmulo de culpar “os ricos” pelos ataques de 8 de janeiro. Com apenas um mês de mandato, é muito cedo para buscar culpados pelas próprias mazelas. Pior: insurgindo-se contra a própria população, o petista se arrisca a voltar a alimentar o antipetismo, que já elegeu Bolsonaro uma vez. O País merece mais do que isso.

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