Lula embarca para primeira viagem aos EUA após tarifaço; presidente abre debate da ONU na terça

Lula embarca para Assembleia da ONU com recado à política de Trump e defesa da soberania
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou na manhã deste domingo (21) rumo a Nova York, onde será o responsável por abrir oficialmente a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), marcada para a próxima terça-feira (23). A participação do líder brasileiro ocorre em meio a um cenário internacional de tensões comerciais e disputas políticas, especialmente com os Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, adotou recentemente uma postura hostil em relação ao Brasil.
Lula deve usar seu discurso para reforçar compromissos com a democracia, a preservação ambiental e o multilateralismo — pilares que, segundo o governo, orientam a atual política externa brasileira. A fala também servirá como uma resposta indireta às recentes medidas adotadas por Trump, incluindo a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA.
Sobretaxa e pressão internacional
A sobretaxa anunciada por Washington foi interpretada em Brasília como uma tentativa de pressionar o governo brasileiro e interferir nas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que recentemente condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Desde então, o clima entre os dois países se deteriorou. Integrantes do governo brasileiro acusam os EUA de extrapolar os limites da diplomacia ao tentar influenciar assuntos internos do país, enquanto Trump e seus assessores acusam o Brasil de perseguição política contra Bolsonaro. O governo americano, inclusive, já sinalizou que poderá adotar novas sanções, a depender do desfecho jurídico envolvendo o ex-presidente.
A ida de Lula aos Estados Unidos ocorre neste contexto de atrito. Embora não haja previsão oficial de encontro bilateral, existe a possibilidade de que Lula e Trump se cruzem nos bastidores da sede da ONU, uma vez que o presidente americano discursará logo após o brasileiro, seguindo a tradição do evento.
Foco no discurso: soberania, clima e ONU
O conteúdo do discurso de Lula está sendo finalizado por sua equipe e deve equilibrar firmeza diplomática com tom conciliador. A expectativa é de que o presidente mencione, ainda que de forma velada, a política comercial agressiva dos Estados Unidos, reiterando a importância do respeito à soberania dos países e criticando medidas unilaterais que impactam economias emergentes.
Outro ponto central será o meio ambiente. Como anfitrião da COP30, que acontecerá em novembro de 2025 na cidade de Belém, no Pará, Lula vai reforçar a cobrança por financiamento climático por parte dos países ricos. A meta do Brasil é obter apoio internacional para acelerar a transição energética e ampliar os investimentos em preservação da Amazônia.
Além disso, o discurso deverá incluir uma defesa do multilateralismo e da necessidade de reformas estruturais nas instituições internacionais. Lula é um dos principais defensores da ampliação do Conselho de Segurança da ONU, com mais representação de países do Sul Global, como Brasil, Índia e África do Sul.
Clima político e substituição temporária
Com a viagem internacional, o vice-presidente Geraldo Alckmin assume interinamente a presidência da República até o retorno de Lula. A ausência ocorre num momento de intensa movimentação política no Congresso, com debates sobre propostas de anistia a condenados pelos atos de 8 de janeiro e pressões internas por ajustes econômicos.
Nos bastidores, há preocupação no Itamaraty com a burocracia na emissão de vistos para parte da comitiva brasileira, incluindo técnicos e diplomatas. A lentidão foi vista como mais um sinal do esfriamento nas relações diplomáticas entre os dois países.
Brasil no centro da diplomacia global
A presença de Lula na Assembleia Geral da ONU reafirma a posição histórica do Brasil como primeiro país a discursar no evento — uma tradição que remonta a 1955 e confere ao país uma vitrine diplomática única. Em um cenário geopolítico marcado por disputas comerciais, crises ambientais e polarização política, a fala do presidente brasileiro deve buscar projetar o Brasil como um ator comprometido com o diálogo e a cooperação internacional.
Mesmo com a expectativa de eventuais recados a Trump, o discurso será cuidadosamente calibrado para manter o foco nos temas globais prioritários: combate à crise climática, defesa da paz e fortalecimento das instituições multilaterais. A equipe de Lula também avalia que é uma oportunidade estratégica para reposicionar o Brasil como liderança regional e referência no debate ambiental.
Expectativa e repercussão
O discurso do presidente brasileiro será acompanhado de perto por representantes de mais de 190 países, além de organizações internacionais e veículos de imprensa do mundo inteiro. A repercussão da fala poderá influenciar o clima político interno e externo, sobretudo diante das críticas recentes de Washington.
Nos próximos dias, além do discurso, Lula participará de encontros paralelos com lideranças políticas, empresários e representantes da sociedade civil. A agenda reforça a tentativa do governo brasileiro de consolidar pontes diplomáticas em tempos de incerteza geopolítica.