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Secretário do governo Donald Trump fala em consertar o Brasil

Declaração de secretário dos EUA sobre “consertar o Brasil” gera repercussão e tensão diplomática

Uma declaração recente do secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, repercutiu fortemente tanto em Washington quanto no Brasil, levantando preocupações sobre a relação entre os dois países. Em entrevista ao canal norte-americano NewsNation, Lutnick afirmou que o Brasil, ao lado de outras nações, precisa ser “consertado” para que não prejudique os interesses dos Estados Unidos. A fala, considerada agressiva e intervencionista, gerou críticas e questionamentos sobre o tom adotado pela administração americana, liderada por Donald Trump, em relação aos parceiros comerciais.

Brasil, Suíça e Índia: alvos de críticas do secretário americano

Durante a entrevista, Lutnick listou países que, segundo ele, estão dificultando os objetivos econômicos dos EUA. Entre os citados, além do Brasil, estão Índia e até mesmo a Suíça, um país que raramente aparece em discursos desse tipo. “Temos um monte de países para consertar, como Suíça e Brasil. Eles têm um problema. Índia. Esses são países que precisam reagir corretamente aos Estados Unidos. Abrir seus mercados, parar de tomar ações que prejudiquem os Estados Unidos”, afirmou o secretário, em tom categórico.

A inclusão do Brasil na fala chamou atenção pelo contexto atual de relações bilaterais e pela ausência do país na nova lista de tarifas anunciada pelo governo americano, o que não impediu o sinal de alerta entre analistas e diplomatas.

Novas tarifas comerciais reforçam postura protecionista de Trump

As declarações de Lutnick surgem em um momento delicado, marcado por uma nova rodada de tarifas comerciais anunciadas pela Casa Branca. A medida, que entra em vigor no dia 1º de outubro, impõe taxas de 25% a 100% sobre uma ampla gama de produtos, incluindo medicamentos, caminhões pesados, móveis, utensílios de cozinha e outros itens.

Curiosamente, o Brasil não está incluído nesta primeira leva de países tarifados. Os alvos imediatos foram Suíça, Índia, Coreia do Sul e Austrália, todos parceiros comerciais relevantes dos Estados Unidos. Ainda assim, o tom da fala de Lutnick deixa claro que o Brasil pode ser incluído em medidas futuras caso não atenda às “demandas” americanas.

Argumento dos EUA: déficits comerciais como justificativa

Lutnick justificou a postura dura dos EUA com base nos déficits comerciais que o país enfrenta frente a várias nações. Ele citou especificamente a Suíça, afirmando que o pequeno país europeu é rico porque exporta muito mais para os EUA do que importa. “Sabe por que eles são um pequeno país rico? Porque nos vendem 40 bilhões de dólares a mais em produtos”, disse.

No caso do Brasil, o argumento segue a mesma lógica: abrir mais o mercado nacional, reduzir barreiras comerciais e evitar práticas consideradas desfavoráveis aos EUA. Isso, na visão do secretário, seria a única maneira de manter uma relação equilibrada e benéfica para ambas as partes — ainda que o tom adotado soe mais como imposição do que como negociação.

Contexto interno brasileiro aumenta vulnerabilidade externa

A pressão norte-americana acontece em um momento de instabilidade política e econômica no Brasil. O país enfrenta desafios como crescimento econômico lento, inflação ainda sensível, além de crises setoriais, especialmente no agronegócio. A diplomacia brasileira, que já foi destaque em décadas anteriores, tem operado com menor protagonismo nos últimos anos, o que dificulta a formulação de respostas firmes a pressões externas como essa.

Esse cenário fragiliza a posição brasileira em mesas de negociação internacionais, tornando o país mais suscetível a exigências unilaterais por parte de parceiros mais fortes, como os Estados Unidos.

Reação do Brasil: cautela e expectativa

A reação inicial do Brasil à fala de Howard Lutnick foi de cautela. Especialistas e diplomatas destacaram que, apesar de ocupar um cargo relevante, o secretário não necessariamente representa de forma integral a política externa oficial dos EUA. No entanto, considerando o histórico de ações rápidas e concretas de Donald Trump, poucos acreditam que as palavras ficarão apenas no campo das declarações.

Aliás, na semana anterior, Trump já havia causado desconforto ao afirmar que os países da América Latina deveriam “pagar mais caro” para exportar commodities agrícolas aos EUA — outro indicativo de que o protecionismo americano pode se ampliar para além das grandes potências globais.

Alerta ligado: Brasil pode entrar na mira

No fim das contas, mesmo fora da lista inicial de sanções, o Brasil está no radar dos Estados Unidos. Caso as exigências de Washington não sejam atendidas, o país pode, a qualquer momento, ser incluído nas futuras medidas protecionistas. Para um governo que já lida com inúmeros desafios internos, essa pressão externa se apresenta como mais um fator de risco geopolítico e econômico.

A metáfora clássica volta a fazer sentido: quando os Estados Unidos espirram, o mundo pega resfriado. E o Brasil, que já lida com sintomas há tempos, corre o risco de agravar ainda mais seu quadro se não souber reagir com inteligência diplomática e estratégia econômica a esse novo ciclo de tensões comerciais.

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