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Assembleia Geral da ONU deve expor contrastes entre Lula e Trump

Lula e Trump levarão visões opostas à Assembleia Geral da ONU

A abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, marcada para o dia 23 de setembro, promete ser palco de uma das disputas de narrativa mais visíveis da diplomacia internacional. De um lado, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, deve apresentar um discurso em defesa da soberania nacional, do multilateralismo e do reforço às instituições internacionais. Do outro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tende a manter sua retórica nacionalista, centrada na prioridade dos interesses norte-americanos.

A Assembleia da ONU, tradicionalmente iniciada com o discurso do Brasil desde 1955, se transforma, mais uma vez, em uma vitrine onde diferentes projetos de mundo são apresentados. Lula deve utilizar o espaço para defender a cooperação internacional em tempos de conflito e aprofundar o papel do Brasil como voz do Sul Global em temas sensíveis como meio ambiente, paz mundial e soberania dos povos.

Foco em soberania e crise humanitária

Entre os principais pontos da fala do presidente brasileiro, a crise humanitária em Gaza deve ocupar posição de destaque. Lula deve reforçar o apelo por soluções diplomáticas e condenar ações unilaterais — como as sanções e vetos impostos por potências que paralisam a tomada de decisões multilaterais. O Brasil vem reiterando sua insatisfação com a atual composição do Conselho de Segurança da ONU, especialmente diante do uso recorrente do poder de veto por países como Estados Unidos e Rússia.

A defesa da soberania nacional deve ganhar um tom mais assertivo, sobretudo diante da escalada de tensões comerciais e políticas envolvendo o Brasil. Lula deve argumentar que nenhuma nação tem o direito de impor medidas coercitivas unilaterais que afetem economias em desenvolvimento. A crítica, embora indireta, se dirige a governos que utilizam tarifas, bloqueios ou retaliações como ferramentas de pressão internacional — prática intensificada durante a gestão Trump.

Reformas na ONU e equilíbrio de forças

A fala brasileira também deve tocar em um tema recorrente, mas que ganha novo fôlego no atual cenário global: a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU. A proposta é ampliar a representatividade do órgão, que hoje reflete um equilíbrio de poder da metade do século passado, e não mais a realidade geopolítica atual. A exclusão de países emergentes, sobretudo do hemisfério sul, vem sendo apontada como uma das razões para a ineficácia do Conselho diante de crises como a guerra em Gaza e a situação na Ucrânia.

Lula deve sustentar que a diplomacia não pode ser refém de disputas entre grandes potências. E que a estabilidade global só será alcançada com uma governança internacional mais democrática e representativa.

Conflitos comerciais e sanções unilaterais

Outro ponto de tensão será a política comercial dos Estados Unidos. A guerra tarifária iniciada por Trump durante seu primeiro mandato é vista por diversos países como fator de desestabilização econômica global. A postura protecionista americana, que se reflete em medidas recentes contra exportações brasileiras, deve ser criticada por Lula como uma ameaça à cooperação internacional.

O presidente brasileiro também deve reforçar sua posição contrária às sanções unilaterais aplicadas historicamente contra países como Irã, Venezuela e Cuba. A mensagem será clara: a soberania e autodeterminação dos povos não podem ser atropeladas por interesses econômicos ou políticos de grandes potências.

Meio ambiente e a COP30

Na agenda ambiental, Lula pretende posicionar o Brasil como referência global. A preservação da Amazônia e os avanços na transição energética devem ser apresentados como compromissos firmes da política nacional. A realização da COP30, marcada para 2025 em Belém, será apontada como símbolo da liderança brasileira na pauta climática.

Enquanto Trump é conhecido por suas críticas a acordos internacionais e sua negação de políticas ambientais, Lula buscará reafirmar o Brasil como parceiro confiável nas metas de redução de emissões e proteção da biodiversidade. A diferença entre os discursos deve ilustrar o abismo entre dois projetos de desenvolvimento: um voltado à cooperação ambiental e outro guiado por interesses econômicos imediatos.

Disputa de imagens e recado ao mundo

Mais do que uma divergência entre lideranças, o confronto discursivo entre Lula e Trump na Assembleia Geral será também um reflexo da polarização global. O presidente brasileiro tentará se projetar como estadista disposto ao diálogo internacional, defensor da democracia, da paz e da ordem multilateral. Trump, por sua vez, tende a reforçar sua imagem de líder antissistema, voltado à força econômica e à proteção de interesses nacionais a qualquer custo.

Ambos também devem mirar suas próprias bases eleitorais. Lula busca consolidar sua imagem de liderança internacional, enquanto Trump, mesmo em um ambiente externo, utiliza o palco da ONU para reafirmar suas convicções políticas aos eleitores americanos.

A assembleia, portanto, não será apenas uma reunião de chefes de Estado, mas uma disputa aberta de visões sobre o futuro da diplomacia global. Em um mundo marcado por conflitos, instabilidade e desconfiança mútua, a ONU volta a ser o espaço onde o planeta escuta, compara e decide em quem confiar.

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