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Defesa de Bolsonaro pede ao STF sua absolvição no julgamento da trama golpista

Defesa de Bolsonaro endurece tom no STF enquanto Congresso articula anistia ampla

Em meio ao julgamento que pode selar seu futuro político e jurídico, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu uma defesa contundente nesta quarta-feira (3). Em sua última manifestação oral antes do veredito do Supremo Tribunal Federal (STF), seu advogado afirmou que a absolvição do ex-mandatário é “imperiosa”, em um discurso que comparou o processo a episódios históricos de erro judiciário. A decisão final do STF está prevista para os próximos dias e pode abrir um novo capítulo de tensão institucional no país.

O caso julgado pelo Supremo envolve acusações graves: Bolsonaro é apontado como um dos articuladores de um plano para instaurar um golpe de Estado após sua derrota nas eleições de 2022. Ele nega todas as acusações, que incluem a suposta elaboração de um decreto de estado de sítio e, segundo investigações, até o planejamento de assassinatos de autoridades — entre elas, o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.

A Procuradoria-Geral afirma que o plano só não foi adiante por falta de apoio dentro da cúpula militar. Ainda assim, a narrativa é de que Bolsonaro instigou os atos que resultaram na invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023 — uma semana após a posse do novo governo.

Sustentação e clima no STF

Na sessão desta quarta, os advogados insistiram que não há provas diretas ligando o ex-presidente às ações descritas. Um dos defensores afirmou que o processo está sendo usado para “condenar um inimigo político”, e comparou a situação ao famoso caso Dreyfus, da França, símbolo de erro judicial motivado por questões políticas e ideológicas.

Com 70 anos e cumprindo prisão domiciliar em Brasília desde agosto, Bolsonaro pode pegar até 43 anos de prisão caso seja condenado. Ainda assim, a expectativa é de que a defesa recorra imediatamente, o que retardaria qualquer eventual ordem de prisão.

O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, afirmou durante a sessão que o Supremo não irá ceder a pressões, sejam elas “internas ou externas”. A fala foi interpretada como uma resposta direta ao crescente movimento político — tanto no Brasil quanto no exterior — em defesa do ex-presidente.

Pressões internacionais e tensão com os EUA

A tensão judicial ganhou contornos internacionais nas últimas semanas. O governo dos Estados Unidos, hoje sob comando de Donald Trump, tem endurecido o tom contra decisões do Judiciário brasileiro. Recentemente, foram anunciadas tarifas sobre produtos exportados pelo Brasil, e sanções simbólicas foram impostas contra membros do STF.

Trump, conhecido aliado de Bolsonaro, classificou o julgamento como uma “perseguição” e uma tentativa de silenciar a oposição. A reação se intensificou após declarações de autoridades americanas colocando em dúvida a atuação de membros da Justiça brasileira.

Enquanto isso, parlamentares próximos a Bolsonaro intensificam a articulação internacional. Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente, viajou aos EUA para dialogar com congressistas e membros do governo Trump, buscando apoio ao pai.

Congresso articula anistia

No Congresso Nacional, os bastidores fervem com a possibilidade de aprovação de uma anistia ampla. A proposta, defendida por aliados do ex-presidente, mira todos os envolvidos nos atos de 8 de janeiro e poderia beneficiar diretamente Bolsonaro, mesmo em caso de condenação.

O senador Flávio Bolsonaro afirmou que trabalhará ativamente pela aprovação da medida. O tema ganhou ainda mais força após a recente visita do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a Brasília. Ligado politicamente ao bolsonarismo e visto como possível candidato em 2026, ele levou o debate ao centro das articulações políticas.

Apesar disso, há forte resistência no governo e entre partidos de esquerda. Líderes governistas avaliam que, mesmo se a proposta passar no Congresso, pode ser vetada pela Presidência e questionada judicialmente no STF. O presidente da Câmara ainda não confirmou se colocará o projeto em votação, mas a pressão de partidos de centro-direita já começou a crescer — e parte deles ameaça deixar a base aliada caso o tema continue fora da pauta.

Um julgamento com efeitos políticos de longo alcance

Caso Bolsonaro seja condenado, a defesa terá cinco dias para apresentar recursos. Mesmo com a possível demora no desfecho judicial, os impactos políticos são imediatos. A base bolsonarista segue mobilizada e trata a ação como tentativa de eliminar o ex-presidente da disputa eleitoral de 2026.

Do outro lado, opositores enxergam no julgamento uma oportunidade de reafirmar os limites democráticos e punir o que consideram um atentado às instituições.

Enquanto isso, Bolsonaro segue em prisão domiciliar, em silêncio público, mas no centro de um dos julgamentos mais emblemáticos da história recente do Brasil. Entre tentativas de anistia, pressões internacionais e embates jurídicos, o país observa — dividido — o destino de um dos personagens mais controversos da política nacional.

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