Deprimido e com 130 kg: o drama de Francisco Cuoco no fim da vida

O ator Francisco Cuoco, uma das figuras mais marcantes da dramaturgia brasileira, faleceu nesta quinta-feira, dia 19, aos 91 anos. Embora seu nome continue sendo sinônimo de galã clássico da televisão, os últimos meses de vida dele foram bastante difíceis. Enfrentando uma série de problemas de saúde e emocionais, Cuoco viveu uma fase de reclusão e fragilidade que poucas pessoas conheciam de fato.
Nos últimos tempos, ele estava morando com a irmã em um apartamento na Zona Sul de São Paulo. Chegou a pesar por volta de 130 quilos, o que agravou ainda mais suas condições de saúde. Suas pernas viviam inchadas, os pés meio arroxeados, e ele já não andava mais sem ajuda — banho, por exemplo, só com o auxílio de cuidadores. A idade avançada cobrava o seu preço, infelizmente.
Mesmo assim, em 2024, teve um breve momento de melhora e conseguiu participar das gravações de um programa especial da Globo, chamado Tributo. A edição foi exibida há apenas duas semanas e trouxe Cuoco com um semblante mais leve, bem-humorado até, ouvindo mensagens carinhosas de colegas de longa data. Entre os depoimentos, teve um da atriz Betty Faria, com quem ele dividiu a cena inúmeras vezes. Quem viu, se emocionou.
Francisco nasceu em 1933, no bairro do Brás, um reduto tradicional da capital paulista. Vinha de origem simples: começou a trabalhar como feirante, ajudando o pai desde novo. Mas foi na década de 1950 que resolveu seguir seu verdadeiro chamado — entrou pra Escola de Arte Dramática, a famosa EAD, hoje ligada à USP. E ali começou a mudar sua história.
Sua estreia no teatro veio em 1958, ao lado de nomes gigantes como Fernanda Montenegro e Sérgio Britto. Curiosamente, foi um papel sem falas, mas nem por isso passou despercebido. Daí em diante, foi ganhando espaço, especialmente no chamado teleteatro, que fazia sucesso na TV Tupi. Sua primeira novela foi Marcados Pelo Amor, na TV Record.
Mas o grande salto mesmo aconteceu com Legião dos Esquecidos, na TV Excelsior, quando contracenou com Regina Duarte. O par funcionou tão bem que os dois voltaram a atuar juntos em Selva de Pedra, de 1972, um clássico da teledramaturgia. A partir daí, Cuoco virou sinônimo de galã.
Um de seus papéis mais lembrados é o do taxista Carlão, em Pecado Capital, de 1975. Outro que entrou pra história foi Herculano Quintanilha, o charlatão carismático de O Astro, exibido em 1977. Com sua voz grave e olhar intenso, Cuoco sempre foi um daqueles atores que marcavam presença mesmo em cena curta.
Além da carreira de ator, era um homem que levava a arte a sério. Tinha uma visão crítica sobre televisão, teatro e cultura brasileira. Não era raro encontrá-lo discutindo temas sociais ou refletindo sobre o papel do artista no país — embora nos últimos anos ele tivesse se afastado um pouco da mídia, talvez por cansaço ou pela própria saúde que já não ajudava mais.
Francisco Cuoco nos deixa um legado imenso, repleto de personagens marcantes e momentos inesquecíveis que fazem parte da memória afetiva de milhões de brasileiros. Um nome que atravessou gerações e, mesmo nos bastidores da vida, continuou sendo grande.